Um espaço para reflexão sobre o teatro infanto-juvenil

Conteúdo Atualizado Semanalmente



quarta-feira, fevereiro 15, 2006


 

ARTE E CONHECIMENTO



por Joselaine B. F. de Freitas



Lídia Kosovsky há cerca de dez anos disse em um Seminário sobre Teatro infantil que o grande problema do teatro infantil era o de não ser tratado como Obra de Arte.
E esta simples frase, dita em um momento de uma conversa informal sobre teatro, tem norteado, de alguma forma, a nossa busca. Por isso resolvemos selecionar alguns artigos sobre a Arte, o belo, a estética e outros conceitos que posssam auxiliar na reflexão sobre o teatro para crianças sob esta perspectiva.

carlos augusto nazareth

ARTE E CONHECIMENTO
A arte pode ser vista enquanto conhecimento a ser construído, enquanto linguagem a ser experimentada e expressão a ser exteriorizada e refletida. Refletindo sobre si e o mundo. Arte como área de conhecimento - com características únicas e imprescindíveis ao desenvolvimento do ser humano - um ser total, dotado de emoção e razão, de afetividade e cognição, de intuição e racionalidade e de uma subjetividade, que não podem ser ignoradas

Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada.” Ana Mae Barbosa

Arte como contágio
Outra noção importante é a de que Arte é “contágio”.

“É nessa capacidade dos homens para se deixarem contagiar pelos sentimentos dos outros homens que se baseia a atividade da arte. “
Tolstoi

Porém, com certeza, será muito mais contagiante um rap ou um cantor em destaque na mídia do que Beethoven, Bach, Mozart. Portanto, o simples contágio é insuficiente para entender o que é arte.
É Vigotsky quem nos ajuda a ampliar esta concepção, citando o Evangelho, e comparando a arte ao milagre da transformação (da água em vinho), já que o sentido vital da arte implica transformações: a arte recolhe da vida o material, mas produz algo que está acima desse material.

“A arte está para a vida como o vinho para a uva”.
Vigotsky

Esta comparação propostas por Vigotsky nos faz entender que a verdadeira natureza da arte sempre implica algo que transforma, que supera o sentimento comum.
A arte transforma quem faz, quem vê e transforma a própria matéria usada. Sendo assim, vai além do contágio, é um fazer humano, é uma prática, e como prática, tem uma finalidade, um objetivo, uma intenção.
Numa sociedade em que há o predomínio do cientificismo, o reconhecimento da Arte e de suas especificidades de linguagens, acaba não existindo e ela passa a ser condenada a ser mero apêndice ou uma simples oposição à ciência.
Quando, na verdade, arte e ciência são faces do conhecimento, que se complementam e ajustam-se perante o desejo de compreender o mundo. A arte não é oposição, nem contradição à ciência, todavia nos faz entender certos aspectos que a ciência não consegue fazer.
A partir das descontruções do que é a arte nos aproximamos de uma concepção de arte mais completa, que considera o homem como um todo, que possui três dimensões: a afetiva, a cognitiva e a social.

Arte como conhecimento

O termo alemão para arte kunst, que partilha com o inglês know, com o latim cognosco e com o grego gignosco da raiz gno, indica a idéia geral de saber, saber teórico ou prático, portanto um conhecimento.
E mais, ars, palavra latina, matriz do português arte, está presente na raiz do verbo articular, que denota a ação de fazer junturas entre as partes e o todo.
O ver do artista é um ver afetado pelo pensar; um ver que analisa as formas e cores da natureza e as recompõe com uma nova inteligência do real. Assim, o ver-pensar é um combinar, um repensar, um transformar os dados da experiência sensível, pensamento bem claro na frase de Bosi:
Arte: percepção aguda das estruturas, que não dispensa o calor das sensações”.
Arte é um trabalho do pensamento, um pensamento emocional e específico que o ser humano produz, com relação ao seu lugar no mundo.
Assim, conhecer será também se maravilhar, divertir-se, brincar com o desconhecido, indagar a existência humana, interpretar diferentes papéis, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com descobertas.
Resumo do artigo:
ARTE É CONHECIMENTO, É CONSTRUÇÃO, É EXPRESSÃO
Autorizado pela autora, especialmente, para publicação no Blog Teatro Infantil Vertente Cultural
Autora: Joselaine Borgo Fernandes de Freitas
Graduada em Design pela UNESP. Mestranda em Arte Visuais pelo IA / UNESP.
Publicado, na íntegra, inicialmente na Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano III - Número 03 -


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sexta-feira, fevereiro 10, 2006


 

TEATRO e ARTE


O teatro sob a perspectiva da obra de arte


por carlos augusto nazareth




“O indizível – ai é que começa a Arte”
Jean – Louis Ferrier
"As pessoas devem confiar na sua sensilidade”
Fayga Ostrower

"A arte é necessária, é uma linguagem que mostra o que há de mais natural no homem; através da qual é possível verificar, até mesmo, que o homem pré-histórico e o pós-moderno não estão distantes um do outro quanto o tempo nos leva a imaginar.
A arte é baseada numa noção intuitiva que forma nossa consciência. Não precisa de um tradutor, de um intérprete. Isso é muito diferente das línguas faladas, porque você não entenderia o italiano falado há quinhentos anos atrás, mas uma obra renascentista não precisa de tradutor. Ela se transmite diretamente. E essa capacidade da arte de ser uma linguagem da humanidade é uma coisa extraordinária"
F.O.
Arte – definições diversas tentam se acercar do indizível. Será arte todo objeto que possui qualidades artísticas, tendo na estética sua função dominante, dada pela intencionalidade do artista?
Será que existem valores característicos do belo? Hoje, como pensamos Arte e valores estéticos? Qualquer objeto ou atividade pode ser detentora de uma função estética?
Será a sensação de prazer que se faz quando estamos diante de uma obra de arte? Prazer este que move à necessidade de repetição deste estado.
O diretor de teatro Peter Brook disse, certa vez, a beleza de uma peça está na qualidade e na perfeição que o público é nela capaz de identificar.
O juízo estético não é juízo dessa adaptabilidade, mas expressa o prazer desinteressado que experimentamos ao concentrarmos a nossa atenção na apreensão de um objeto. Kant propõe ainda o pleno exercício na apreciação da obra de arte.
Esta experiência do prazer estético, ao qual se segue o desejo de repetição, no teatro, seguindo a teoria de Peter Brook é a qualidade – e acrescentamos, o equilíbrio e a unidade conseguida através da pluralidade de expressões artísticas que vão para a cena. São inúmeras linguagens que se unem para mostrar a história. E por mostrarem, a palavra não é seu material único, mas uma diversidade de linguagens que se percebe, que se sente e que se vê em cena. Tudo serve ao objetivo central de se encenar ou um texto, ou uma idéia, ou um fragmento – importa o suporte, mas importa mais o que se quer dizer ao público, e tudo – deve estar a serviço deste objetivo: cenários, figurinos, luz, cor, atuação, texto e o que mais entrar em cena. Esta unidade onde os múltiplos sentidos são atingidos pela diversidade de linguagens este bombardeio múltiplo e uníssono à emoção e ao racional é que faz existir a experiência estética no teatro que tem esta característica de estímulos múltiplos sendo absorvidos num mesmo momento e ativando todas as áreas de percepção.
A função do teatro é múltipla. O teatro é ritualístico. Possivelmente em suas mais antigas expressões se confunde no tempo com a origem do contar histórias.
No caminhar dos tempos o ritualístico se tornou expressão quase que religiosa, por um lado e herética por outro, mas o ritual, a celebração, permanece em sua base.
No teatro Grego, as grandes questões, arquétipos e mitos eram oferecidos ao público e possibilitavam acontecer a catarse. E o passar dos tempos foi reunindo em torno do teatro inúmeras funções.
Portanto, o teatro continua discutindo as questões básicas do homem. Quem sou? De onde venho, para onde vou?
O teatro discute as questões do homem posto no mundo, tanto numa visão diacrônica como sincrônica.
O teatro é ontológico. Fala da própria história do homem.
O teatro continua catártico, e é, ao mesmo tempo, uma expressão artística a ser apreciada, onde inúmeras linguagens se reúnem para discutir o Homem. É a única arte onde se vê o “drama” acontecendo ali, naquele momento, naquele lugar. Você presencia. É a grande diferença entre o contar e o mostrar, que o teatro tem como único.
A mimesis aristotélica tem que ser entendida exatamente aqui. Não se reproduz um fato ou uma ação, se reproduz um estado de espírito. A emoção do teatro vem da emoção que se repete todos os dias, ou que se renova, que se refaz. Não é uma simples repetição de palavras, uma repetição física. É um resgate de um momento onde a emoção tem que estar presente, ou corre o risco de não ser teatro.
Dentro desta perspectiva o teatro tem a função estética, catártica, questionadora, transformadora, política e social – uma obra de arte enquanto expressão artística do homem, que fala do homem, para o próprio homem, questiona o homem e questiona O Homem


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domingo, fevereiro 05, 2006


 

O JOGO DO IMAGINÁRIO NA INFÂNCIA



por maria cecília rafael de góes



O artista que cria para o público infantil precisa de referênciais sobre este imaginário para que melhor entenda como atua sua criação sobre seu receptor.
Na avaliação de um produto cultural voltado para a criança, seja por parte do criador, ou do mediador, o conceito de adequação deve ser estabelecido partir da discussão do que seja ARTE, entendendo o TEATRO para CRIANÇAS como OBRA DE ARTE e como este se articula com o IMAGINÁRIO INFANTIL, levando-se em conta o DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.
Por esta razão temos buscados artigos, uns acadêmicos, outros não, que discutam essas questões, que sirvam de subsídio para uma reflexão mais aprofundada sobre a prática do teatro para crianças

carlos augusto nazareth

O JOGO IMAGINÁRIO NA INFÂNCIA: A LINGUAGEM E A CRIAÇÃO DE PERSONAGENS

A pesquisa a ser apresentada referencia-se na abordagem histórico-cultural em Psicologia, em especial nas interpretações de Levy Vygotsky, e se apóia em autores atuais que assumem o brincar como um espaço em que a criança tanto refina o manejo do plano interpessoal, na interação com parceiros ou adultos cuidadores, quanto elabora sobre a cultura, construindo encenações de personagens que refletem as ações e relações humanas vivenciadas em seu grupo social.

O interesse está em contribuir para a ampliação de conhecimentos sobre as relações entre linguagem e imaginação na infância e para a discussão da importância do brincar nas iniciativas de educação infantil.

O jogo imaginário e a linguagem


Ao discutir a esfera do brincar, Vygotsky (1984) focalizou, especialmente, os jogos infantis que implicam uma situação imaginária.

Segundo sua visão, no início da infância, o contexto perceptual e os objetos como que determinam a ação da criança. Os objetos são explorados e manipulados conforme suas características físicas ou funcionais; motivação e percepção estão, de certa forma, superpostas. No entanto, quando começa a construção do faz-de-conta, opera-se uma separação dos campos da percepção e da motivação, pois as ações são simuladas e uma coisa é usada para significar outra.

O campo do significado se impõe, de maneira que a criança passa a agir com os objetos não apenas em função do que percebe.
Esse processo traz conseqüências importantes para o funcionamento infantil, entre as quais está a mudança no tratamento da significação. O aumento da flexibilidade para usar um objeto como se fosse outro envolve a capacidade da criança para efetuar um destaque do significado.

Quando uma caixa de papelão é tomada como "lagoa", a criança opera com os significados de modo flexível, desprendendo o significado de "lagoa" da presença imediata desse último objeto e impondo-o a outro -- a caixa de papelão.


Movimento e significado

Ao começar a operar no plano imaginário, a criança apoia-se, em parte, na semelhança entre o objeto significado e o objeto pivô (que serve de suporte à significação conferida). Mas, com o desenvolvimento da atividade lúdica, essa semelhança passa a ser dispensada, permanecendo apenas uma exigência: a de que o objeto pivô comporte o gesto lúdico, ou seja, que possibilite os movimentos tipicamente envolvidos na ação com o objeto sendo significado.


A relativa independência do perceptual-imediato é uma característica definidora do jogo imaginário. Porém, não se pode supor, por isso, que a atividade esteja, desde o início, liberta das restrições da realidade.
As regras do real se fazem presentes de forma marcante, em termos do que é apropriado ao agir com as coisas e de como os acontecimentos podem se organizar. Desse modo, o jogo de faz-de-conta é caracterizado pela dimensão imaginária, mas esta tem um vínculo genético com o real. No espaço das ações lúdicas, a criança reelabora suas vivências cotidianas. O que constitui a matéria da situação imaginária origina-se do diretamente vivenciado, observado ou conhecido.
De início, há uma vinculação muito forte com o vivido, numa atividade
praticamente orientada pela memória. Entretanto, o faz-de-conta passa a se caracterizar, também, pelas possibilidades de operar com a recombinação de elementos da realidade, criando situações virtuais. Assim, a fantasia propriamente dita, liberta das restrições do real, é uma produção criativa, que se dá como desenvolvimento tardio do brincar e não está na sua origem Vygotsky, 1987).
Com base nas discussões de Vygosty, é possível desdobrar a idéia de que a atuação no plano imaginário é uma experiência que propicia à criança compreender aquilo que caracteriza os personagens, as relações sociais em que ele se insere e as regras de comportamento implicadas. Pode-se dizer que esse aspecto do brincar é fundamental pelo trabalho de elaboração que é feito sobre a imagens de membros do grupo social e sobre modos culturais de agir e de estabelecer relações interpessoais.
Essas interpretações indicam, como aponta Rocha (1994), que o brincar compõe-se de uma dupla tendência – de adesão ao real, pelos seus vínculos com acontecimentos e regras daquilo que é vivenciado, e de transgressão do real, pelas possibilidades de recombinação criativa das experiências. Trata-se, assim, de um processo que tem aspectos. paradoxais. Implica libertação do perceptual-sensível mas envolve o atendimento a regras; tem relação genética com as vivências cotidianas mas pode subverter a lógica do real nelas
contidas. Esse caráter duplo ou ambíguo dos jogos de imaginação é salientado por outros autores. Brougère (1997), embora abordando mais o papel do brinquedo (objeto) na infância, refere-se também aos processos de brincar e retoma as características já mencionadas das atividades lúdicas infantis, dizendo que “a brincadeira distancia-se das determinações inscritas no objeto” (p. 72), porque o objeto é submetido a uma série de modificações e reinterpretações. Ao mesmo tempo, o brincar faz parte do processo de
socialização, em que a criança se apropria de códigos culturais, mas a imitação lúdica do real não resulta apenas num “conformismo de adaptação à cultura, tal como a cultura existe” (p. 104). A criança apropria-se de códigos e, no entanto, não o faz passivamente; situa-se diante deles e também transforma o vivenciado, acrescentando inovações. Na mesma linha, Bontempo, (1996) afirma que capacidade de imaginar que a criança vai construindo na brincadeira envolve “uma mistura de realidade e fantasia, em que o
cotidiano toma outra aparência, adquirindo um novo significado” (p. 69-70).
Assim, um aspecto instigante do funcionamento lúdico-imaginário está, justamente, nas instâncias em que a criança, ao re-criar suas vivências, matizadas pelo afeto, pode ultrapassar a “lógica do real” e, com a complexificação das brincadeiras, imaginar um plano de ocorrências virtuais que transgridem aquela lógica. Nos vários desdobramentos do brincar, um componente fundamental na interpretação do funcionamento infantil precisa ser realçado. De acordo com o referencial histórico-cultural, os aspectos cognitivos e afetivos implicados no brincar são necessariamente articulados com processos de linguagem, num vínculo de afetação recíproca. A linguagem constitui e é constituída por elaborações a respeito das vivências cotidianas e das situações virtuais.
De diferentes perspectivas e com diferentes ênfases, a importância da linguagem no brincar tem sido abordada por vários autores. Nas pesquisas das décadas de 70 e 80, embora algumas tenham tido uma preocupação maior com as dimensões proposicional ou 2 No contexto de uma discussão sobre outro tema, não diretamente orientado para o brincar, Kramer (1998) lembra a capacidade da criança para “virar pelo aveso a ordem das coisas” e sugere que é preciso compreender melhor a infância para compreender melhor a cultura e, até, para vislumbrar formas de transformá-la.cognitiva do que com a linguagem em si (sendo as falas tomadas apenas enquanto indicadores de conteúdos ou cognições), outras chegaram a focalizar as funções de diversas formas de falas, mostrando que elas podem compor a estrutura interna da situação imaginária (diálogos de personagens), referir-se ao campo perceptual ou prático (comentários sobre elementos situacionais e negociações para o início ou continuidade do jogo) e reportar-se ao plano ficcional da brincadeira (falas metanarrativas). Estudos desse tipo podem ser ilustrados pelos trabalhos de Scarlet e Wolf (1979) e Galda (1984).
Outros aspectos do papel da linguagem no faz-de-conta vêm sendo apontados. Por exemplo, Oliveira (1988) chama atenção para o fato de que as falas das crianças permitem a orientação das ações e a regulação do intercâmbio de parceiros. Explorando as relações entre palavra, objeto e ação em episódios de faz-de-conta, Rocha e Góes (1993) sugerem que, aos poucos, a palavra passa a sustentar a criação imaginária, permitindo que a criança prescinda de apoios concretos (ação lúdica e objeto pivô) para compor partes da cena lúdica. Esse papel da linguagem na libertação do perceptual e do sensível-imediato é ainda
salientado por Rocha (1994), ao indicar que, nos desdobramentos do brincar, a palavra permite que a criança passe a configurar cenas imaginárias, dispensando o apoio no objeto pivô, ou a dar existência a personagens, dispensando a presença de participantes. Assim sendo, a linguagem "possibilita à criança criar e agir com objetos ausentes, sem nenhum
suporte material, compor personagens que, na verdade, estão ausentes do jogo, e relacionarse com eles, coordenando ações que podem ser apenas indicadas" (Rocha, 1994,p.69).
Na mesma linha dessas últimas análises, este trabalho pretende explorar a condição constitutiva da linguagem na composição do jogo imaginário. O foco é posto nas formas de criação de personagens e nos enunciados a eles vinculados. Na abordagem desse tema, acrescenta-se a contribuição de Bakhtin (1986), no que se refere a proposições sobre processos de enunciação. Expresso em termos específicos, o objetivo é analisar os modos pelos quais os enunciados das crianças configuram os personagens da situação imaginária
Embora, num sentido amplo, os conceitos de papel e personagem possam se equivaler, os termos serão empregados de forma relativamente distinta: o personagem diz respeito à pessoa, ou persona, vivenciada no jogo; o papel corresponde a ações e posturas prototípicas vinculadas ao personagem.

Referências bibliográficas
Bakhtin, M., (1986). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec.
Bontempo, E., (1992) Brinquedoteca: espaço de observação da criança e do brinquedo. In
A. Friedman e Outros – Brinquedoteca: espaço de observação da criança e do
brinquedo. São Paulo: Scritta/ABRINQ.
___________ (1996). A brincadeira de faz-de-conta: lugar do simbolismo, da
representação, do imaginário. In T.M. Kishimoto (Org.) Jogo, brinquedo,
brincadeira e educação. São Paulo: Cortez.
Brougère, G., (1997). Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez.
Galda, L., (1984). Narrative competence: Play, storytelling, and story comprehension. In
A.D. Pellegrini e T. Yawkey (Orgs.) The development of oral and written language
in social context. Norwood: Ablex.
Kishimoto, T.M., (1997). Diferentes tipos de brinquedoteca. In A. Friedman e Outros –
Brinquedoteca: espaço de observação da criança e do brinquedo. São Paulo:
Scritta/ABRINQ.
Kramer, S., (1998). Linguagem, cultura e alteridade: para ser possível a educação depois de
Auschwitz, é preciso educar contra a barbárie. Trabalho apresentado na XXI
Reunião Anual da ANPED, Caxambu, MG.
Oliveira, Z.M.R., (1988). Jogo de papéis: Uma perspectiva para análise do
desenvolvimento humano. Tese de Doutorado, USP-SP.
Palhares, M.S., Martinez, C.M.S., (1999). A educação infantil – Uma questão para o
debate. In A.L. Goulart de Faria e M. S. Palhares (Orgs.) Educação Infantil pós
LDB: Rumos e desafios. Campinas: Autores Associados/FE-Unicamp; São Carlos:
Ed. UFSCar; Florianópolis: Ed.UFSC.
Rocha, M.S.P.M.L. (1994). A constituição social do brincar: Modos de abordagem do real
e do imaginário no trabalho pedagógico. Dissertação de Mestrado, UNICAMP.
Rocha, M.S.P.M.L., Góes, M.C.R., (1993). Explorações sobre o desenvolvimento da
operação com signos na atividade lúdica: Relações entre o imaginário e o real.
Trabalho apresentado na XXIII Reunião Anual de Psicologia, Ribeirão Preto.
15
Scarlett, W., Wolf, D., (1979). When it's only make-believe: The construction of a
boundary between fantasy and reality in storytelling. In E. Winner e H.Gardner
(Orgs.). Fact, fiction, and fantasy in childhood. San Francisco: Jossey-Bass.
Sutton-Smith, B., (1988). The struggle between sacred play and festive play. In D. Bergen
(Org.) Play as a medium for lrearning and development. Portsmouth: Heinemann.
Vygotsky, L.S., (1984). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.
____________ (1987). La imaginación y el arte en la infancia. México: Hispânicas.


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quinta-feira, fevereiro 02, 2006


 

O TEATRO E A ESCOLA



por carlos augusto nazareth



A arte é libertária e o teatro é sem dúvida, das Artes, expressão libertária por excelência. A possibilidade de “re-viver” sentimentos e situações sem barreiras de tempo e espaço, de presenciar fatos de verdade ocorridos ou apenas existentes no imaginário do autor, possibilita resgate do indivíduo e da sociedade. José Carlos Moreno, criador do Psicodrama, entendeu esta possibilidade ampla da arte do teatro criando o psicodrama.
O Processo de abordagem do texto teatral pode ser libertário, se atentarmos para todo o ideário ali contido, compreendendo os agentes dos fatos e os fatos propriamente ditos, em sua essência.
Utilizarmos os jogos teatrais como libertação da expressão do indivíduo; a exposição do que tenha de mais recôndito, levando a um auto-conhecimento e auto-expressão indispensáveis para a sua realização como pessoa.
O teatro e a Arte na educação
O teatro e o texto teatral podem ser tomados como instrumento de desenvolvimento integral da criança. E, por esta ótica, o Processo é mais importante que o resultado - que, preferencialmente, não deveria, na verdade, existir, pois, por mais que não se queira, o professor, a criança, os pais e a escola ficam atentos ao produto final, e isto, invariavelmente, prejudica o processo. Nesta ótica o jogo teatral, as dramatizações, as improvisações devem ser o foco.
As técnicas teatrais como recurso auxiliar
O teatro e as técnicas teatrais também podem ser tomados como um instrumento auxiliar do professor de qualquer área. A dramatização de um acontecimento histórico pode permitir uma melhor compreensão de um fato, mas somente se esta reprodução não for formal e como diz Aristóteles, no seu claro conceito de mimésis, o teatro não reproduz a ação do homem, mas o sentimento do homem. E neste caso também não é o resultado final o nosso foco, mas sim todo o em torno da situação reproduzida, não só no campo do conhecimento e da razão, mas no campo motivações emocionais que envolvem o fato. Sentimentos e paixões que despertaram e motivaram o acontecimento, dentro de uma perspectiva histórica.
O teatro como atividade complementar
O teatro pode ser, além de tudo, uma atividade complementar e existir dentro da escola como um elemento opcional, formando-se grupos para Oficinas Teatrais, Grupos Amadores de Teatro, onde o conhecimento e a técnica do fazer teatro aí já se torna o foco de atenção e o produto final tem maior relevo.
A criança no teatro
A Escola deve, como os pais, ser um elemento incentivador da ida da criança ao teatro. E como na leitura, nada melhor que pais leitores para se formar novos leitores, através do hábito – cotidiano – de ler; o mesmo se aplica ao teatro - nada melhor do que pais espectadores para se formar novos espectadores
O Texto Teatral
O texto teatral é o único elemento permanente desta Arte.
Os espetáculos têm a permanência de seu tempo de duração - fica o texto que se torna vivo a cada atualização. O teatro é a única forma de expressão que permite a alguém presenciar um fato acontecido em qualquer tempo e em qualquer lugar, ali se “revive” o sentimento do acontecido, os personagens têm sua personalidade re-construída através do entendimento do próprio texto. A função do texto deve ser compreendida e vivenciada, sua premissa percebida e trabalhada como uma forma de leitura do mundo e visto, sobretudo, sob a perspectiva da obra de Arte que tem, além do caráter lúdico como forma de lazer, a função de incomodar, fazer repensar, revolucionar, mudar, modificar. E toda esta ação humana não exclui o prazer promovido pelo espetáculo teatral, prazer este que não pode ser esquecido em qualquer expressão artística – o prazer de quem faz e de quem recebe – o prazer da fruição.
O trabalho com o texto teatral na escola
O texto teatral nos traz uma história que deve ser bem compreendida: sua premissa, sua estrutura, sua seqüência, seus personagens. Ao final da leitura deve ser claro, para o leitor, a trama, os protagonistas, antagonistas, os momentos de “virada” da história, e, mais que tudo, conseguir sentir e vivenciar o sentimento predominante em cada cena, o “estado” do personagem e entender a função de cada cena e de cada personagem dentro da história.
Este entendimento será mais visceral se for ponto de partida para jogos dramáticos, que permitirão a elaboração do impacto emotivo provocado pela obra, gerando uma melhor compreensão da obra, do mundo, dos seus sentimentos em sua relação com o mundo e com si mesmo.
Entendimento e vivência orgânica do texto teatral que, a cada apresentação, revive o momento único de um fato acontecido, ou imaginado e que ganha a possibilidade de reprodução infinita do fato e do sentimento do fato, através da magia do teatro.
O texto teatral aciona mecanismos simbólicos polissêmicos, permitindo que se formem tantos espetáculos quanto forem os números de leitores. E a forma direta de estímulo da criatividade, feita pela narrativa dramática, sem a intermediação de um narrador, provoca, de forma única, o imaginário do leitor.


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