Um espaço para reflexão sobre o teatro infanto-juvenil
Conteúdo Atualizado Semanalmente
O ano de 2005 foi difícil para o teatro infantil. As causas são muitas.
A escassez de patrocínio, que propicia o ressurgimento de produções de fundo de quintal e que acabam tomando a pauta dos teatros.
Os mediadores, pais e professores, que quase não têm indicadores sobre a qualidade dos espetáculos em cartaz, pelo restrito espaço na mídia.
As discussões sobre a qualidade em teatro para crianças que ficam limitadas à classe artística, sem possibilidade de se democratizar esta troca e envolver pais e professores.
Há também um certo descaso e uma visão às vezes distorcida do que seja um teatro de qualidade para crianças, por parte dos próprios pais e professores, que também têm dificuldades de obter informações concretas a respeito desta atividade.
Este quadro vem se arrastando há alguns anos. Corremos, assim, o risco de perder grande parte de nosso público futuro. O processo de formação de platéia fica totalmente prejudicado.
Nesta era cybernética, o teatro é um dos focos de resistência para que sejam desenvolvidas as qualidades do humano, do sensível, do artístico. E já nem cabe mais, hoje, qualquer discussão a respeito do consenso de a arte ser fundamental para a formação integral do ser humano e sabemos que, desde os gregos, já se considerava a infância um período fantástico para o aprendizado. É comum se dizer que o que se aprende, quando criança, fica de modo indelével na memória. E aprendizado aí é tomado no sentido amplo de “experenciação” de qualquer tipo de manifestação “da mente ou do espírito”, do racional ou do sensível.
Ficar lamentando a falta de público, a má qualidade dos espetáculos e outras mazelas não resolvem o problema. A questão é – o que fazer para que esta atividade se desenvolva e se torne um hábito, contribuindo, enquanto Arte, para a formação da criança?
Os espaços de discussão precisam se multiplicar, seja na mídia, ou no meio acadêmico, nos cursos de formação, pós-graduação, mestrado, doutorado. E esta é uma questão não só do teatro, mas da literatura infantil também. Há um único mestrado em literatura infantil no Brasil, que acontece no estado de Santa Catarina. Nos nossos cursos de graduação e mestrado em teatro, o teatro infantil é praticamente ignorado.
Ações que dependem de vontade política precisam ser desenvolvidas continuamente para que a médio prazo se consiga algum resultado, já que sabemos que, em educação e cultura, os resultados só começam a surgir a longo prazo.
Ações práticas como mais espaço na mídia, não só para crítica ou para divulgação, mas para que seja possível discutir estas questões, através de artigos, entrevistas. Realização de debates, workshops que envolvam profissionais da área e mediadores – pais e professores.
Patrocínios voltados para este segmento da produção teatral, prêmios que diferenciem os profissionais e os trabalhos de mais qualidade auxiliando o público a começar a identificar qual o espetáculo mais indicado para levar a criança.
Algumas ações importantes aconteceram em 2005. Continua se expandindo o projeto SESC CBTIJ, que leva teatro aos locais mais distantes do centro nervoso do Rio, o Centro de Referência do Teatro Infantil promoveu seu III Encontro de Linguagens, apresentando inúmeros espetáculos e promovendo mesas de debates, a FUNARTE manteve o Prêmio Nacional de Dramaturgia. Nosso teatro para crianças, através da companhia de Ana Barroso e Mônica Biel, com seus já conhecidos clowns Lasanha e Ravióli, esteve no Canadá, representando com total sucesso o Brasil, num encontro internacional, tendo obtido excelentes críticas dos jornais europeus. Outros grupos têm viajado para Cabo Verde e outros países.
É importante lembrar que toda esta discussão gira em torno do teatro realizado na zona nobre da cidade. É fundamental, no processo de formação de platéia, a interiorização da atividade teatral, a inter-relação Arte-Escola, sem ranços didáticos ou pedagógicos, o possibilitar a ida ao teatro de pais e professores.
A faixa etária do público infantil que freqüenta o teatro, hoje, vai dos poucos meses de idade até quatro ou cinco anos. Onde está o público infantil de seis a nove anos? Há uma defasagem entre a procura de espetáculos teatrais infantis para um público de menor idade e uma oferta de espetáculos para um público infantil de faixa etária superior, que não está mais indo ao teatro.
Donde entendemos, também, que há a necessidade de se pesquisar, avaliar e diagnosticar o que acontece para que possamos ajustar o teatro infantil ao seu público, seja mais novo ou mais velho. Há muito a fazer pelo teatro para crianças e no teatro para crianças e, hoje, se temos alguns poucos bons espetáculos são daqueles que acreditam na arte, na criança e brigam com poucas armas contra as inúmeras adversidades, mas conseguem realizar um trabalho que dignifica o teatro infantil e que, por isso, precisam ser destacados.
A nomeação destes espetáculos pode vir a ser um balizador para pais e professores, responsáveis pela ida de seus filhos e alunos ao teatro.
E destes espetáculos que estiveram em cartaz em 2005, ressaltamos dez deles como os melhores da temporada.
DESTAQUES JB 2005
“Os diferentes”, do grupo Hombu;
“Infância”, de Karen Acioly;
“As aventuras de Robson Crusoe” , direção de João Batista;
“A aranha arranha a jarra, a jarra arranha o trava-língua” de
Demétrio Nicolau;
“Estação Drummond”, da Cia. De Teatro Medieval
“Mamãe como eu nasci”, de Antônio Carlos Bernardes;
“Uma história para Calibã”, direção de Beto Brown
“Um conto para Rosa”, direção de Nara Keiserman
“Quixote”, de Cláudio Sássil
"As novas molecagens do vovô", de Márcio Trigo
Queremos ainda destacar os trabalhos:
Atriz Josie Antello em “Estação Drummond”, onde faz o poeta menino;
Ator Eduardo Rieche, no difícil trabalho solo como Robson Crusoe.
Demetrio Nicolau e Karen Acioly com direções que se destacaram na temporada que ora termina.
Esperamos em 2006 ações efetivas, para que se reverta este quadro.