Um espaço para reflexão sobre o teatro infanto-juvenil

Conteúdo Atualizado Semanalmente



segunda-feira, maio 29, 2006


 

COMO FAZER TEATRO INFANTIL



por Jorge Garoya



Em 1981 Jorge Garoya publicou na revista argentina Humor o texto “Como fazer teatro infantil”, onde faz uma séria crítica, porém cheia de humor e ironia, àqueles que “usam” o teatro para crianças e o tratam como algo menor, mais fácil, de modo absolutamente equivocado.
Vinte e cinco anos depois, o “FORO IBEROAMERICANO DE TEATRO PARA NIÑOS Y JÓVENES” , publicação da ATINA - Asociación de Teatristas Independientes para Niños y Adolescentes de la Argentina, republica este texto em seu boletim do mês de maio, Año 1 N* 49 – 22 de Mayo 2006, por sua atualidade
Carlos Augusto Nazareth

Como fazer teatro infantil?
Por Jorge Garayoa
Texto completo. Publicado por Humor (Buenos Aires, Argentina) em maio de 1981
Numerosos estudantes de teatro, atores, principiantes e artistas de teatro de lento crescimento optaram por ter como plataforma de lançamento para seu desenvolvimento profissional, por encarar de frente e sem pudor o teatro infantil.
Por que começam por aí? Fácil. Porque o teatro infantil, como todo o mundo sabe, é um gênero menor, infinitamente mais fácil de fazer que o teatro não-infantil e – como seu nome indica – é dedicado às crianças, que são como os adultos, porém menores e mais burros. Teatro infantil - às vezes vem de infância e outras vezes de infanticidio.
Quase qualquer lugar pode ser considerado adequado. Desde um teatro tradicional, até um pequeno sótão inabitável. O pai-mãe chega com a criança ao lugar em questão, mas com um forte pressentimento, que ele tenta afastar, gritando NÃO! No mínimo, o espetáculo é bom, muitos casos de peças feitas com dignidade e até com talento pensam os pais que se sentam ao lado da criança e lhes dão um caramelo com dois objetivos: 1) acalmar os nervos, 2) tratar de se aproximar, de algum modo, da sensibilidade e do gosto das crianças.
Quando vão se apagando as luzes do teatro os pais sentem uma fria sensação na espinha. Se conhecem o elenco por alguma peça anterior, já estará preparado para algo bom ou ruim, mas em caso contrário, o frio na espinha será muito mais intenso.
Entra em cena um grupo de atores com malhas coloridas e muito entusiasmo. com. o fundo musical de ama cacao perpetrada por nutro ator que se acompanha com violão, dançam, sorriem e se apresentam. A coreograifa é elementar, o sorriso forçado e a apresentação óbvia, porém tudo feito com muito entusiasmo.
- Olá, crianças! – frase absolutamente indispensável, sem a qual não há possibilidade alguma de tentar estabelecer uma comunicação com a platéia infantil. Nós somos… - e aqui o nome ao estilo Pirulinho e Pirulão, Evinha e Evão. Demos muita vontade de conhecê-los, crianças e de todos juntos viajarmos pelo país da magia e da fantasia, um país onde tudo é bonito, as pessoas são boas e tudo, que é bom, é possível – neste trecho um pai-mãe recorda o último discurso político – “… e queremos convidá-los a percorrer juntos este país.” E os atores continuam:
- Querem, crianças? Sim? Vamos? – com olhar tenso os atores se aterrorizam devido ao silêncio das crianças e não têm outra opção que lançar um tímido “sim”, eles mesmos.
Passado este momento constrangedor os atores retomam o entusiasmo. Em seguida e sem que nada possa evitá-lo, fará sua entrada triunfal algum bichinho. Pode ser um monstro cabeçudo, uma coruja triste ou um outro estúpido e dentuço. Se trata da cota de fantasia animal (e não de fantasia, animal!) que todo espetáculo para crianças deve ter. Este bicho poderia chegar a contracenar de maneira ao menos divertida, porém só é usado como uma surpresa. Depois o deixam de lado e passa a ser mais um elemento do cenário, que, de vez em quando, balança a cabeça. Estes bichos bem poderiam se chama Pepe. Os Pepes abundam no teatro infantil e são muito entusiamados.
A ficho dividirá o mundo em boas e mas, Asia serio os seres humanos, os robos, os cachorrillos, os filodendros, maçãs assadas ou pneumáticos. De um lado estão os bons (porém bons-bons, bons com determinação, bons sem falhas, asquerosamente bons) e do outro a parte ruim da vida (os maus que são maus até quando querem ser bons, os maus computadorizados, os maus fanáticos, os maus malíssimos).
E a luta se trava, em uma nítida reprodução do típico esquema de filme de cowboys, onde esta luta constitui o eixo da obra e conduz inevitavelmente a um único final: o triunfo óbvio, rebuscado, às vezes, convencional sempre, aborrecido inclusive. Triunfo dos bons que festejam com muito entusiasmo.
A prova de amor

E assim poderíamos continuar mencionando uma infinidade de situações, exemplos e faces do teatro infantil. Deste tipo de teatro para crianzas a que nos referimos, claro. O… como defini-lo? Mal, talvez? Deficiente? Incompleto? Perigoso, seria melhor. Porque o teatro, como as outras expressões artísticas e/ou comunicação de massas, pode ser nocivo. E com mais razão aquele teatro que fala à criança, cercando-a de mensagens estéticas e valores éticos a este ser humano que não é uma
adulto pequeno, se não um ser que está aprendendo a ser adulto.

O curioso é a maneira que o teatro infantil é utliizado como trampolim de formação, treinamento ou aperfeiçoamento profissional. É como a prática hospitalar para o médico. Aquejes que se dedicam a espetáculos infantis são, na maioría dos casos, aprendizes . Esta é a questão. Chegar a fazer Chekov ou Sófocles é difícil por dois motivos: porque se fazem poucos Chekov e Sófocles e porque – mesmo que a oportunidade se apresente – para fazer Chekov, ou Sófocles, ou Shakespeare, ou Dostoievsky, ou Ibsen , ou Brecht, tem que ter com o quê fazer. Então, dando tempo ao tempo, enquanto vão lhe fazendo surgir o talento que possui, aproveitando o que é muito menos difícil encontrar um teatro livre à tarde que à noite e com consciência de que equivocar-se diante de vinte crianças é uma coisa, porém errar diante de duzentos adultos e quatro críticos, com uma obra séria e para adultos é uma coisa muito diferente…aprendendo, pesquisando, tateando na neblina, usando as crianças como “porquinhos da India”… o ator, o diretor e o autor fazem teatro infantil. Com bastante amor e muito entusiamso, é verdade. E assim vai o teatro infantil.


Ingredientes do teatro infantil
Chegou o momento esperando. Sem nos preocuparmos com a ordem passamos a enumerar os elementos necesarios para conseguir um espetáculo infantil ortodoxo, desses que abundam por aí.
Formar um grupo entusiasmado
E entusiasmado quer dizer exatamente isso e não outra coisa.
Ser psicopedagogo, profesor do maternal ou do primário
Com isso já se está capacitado a escrever, atuar ou dirigir uma obra para criança.
Propor um país de fantasia
Bem, bem, bem alienado da realidade, que poderia ser criticada, porém não é algo com o que se deva andar aborrencendo as crianças..
Canções infantis
Se constituem de melodias pequenas, com letras pequeninas. A poesía trazem conteúdos didáticos, direcionados aos adultos, na verdade, mais que à criança.
Atores com malha de ballet
Pode se pensar em algo maíz absurdo que fases teatro infantil SEM usar malas de ballet?
Três cubos de cores diferentes
Que possa ser transformados em qualquer coisa, demonstrando dessa maneria ter uma asombrosa capacidade imaginativa e prática.
Um boneco humanizado e bobo
Com um ator dentro, que morre de calor
Momentos de humor
Porém humor infantil. Quer dizer, humorzinho. Ou seja, humorete. Em outras palavras, hmmmmmmm
Explicações verbais da ação que acontece
Enquanto a ação acontece se explica o que está se vendo no palco.
Apelar para personagens famosos e misturá-los sem pudor
Donald e Batman, Peter Pan e A Mulher Maravilla, Asterix e Maradona
Falta de necessidade de criar uma obra de teatro
Basta armar uma série de situações desconexas.
Não odiar as crianças
Não é necesario amá-los, tampouco. Não há porque exagerar.
Não ter nada que fazer aos sábados e domingos à tarde
Do contrário, tudo se complica
Animar-se a distribuir filipetas na porta do teatro
Isto é quase mais importante que estudar o texto da peça
Imprimir ao espetáculo um grande ritmo físico
Correr, saltar e gritar muito
Convecer-se de que as crianças o perdoam.
Porém as crianças não perdoam. Só fingem. Quando crescem e têm a sorte de amadurecer e se tornar adultas mais ou menos como a gente e vão ao um teatro depois de muito tempo sem pisar, ninguém alega haver uma desculturização teatral originada na infancia e na adolescencia, em virtude do que presenciaram e se reconciliam com uma das mais belas da arte, e se dão conta de seu passado, de platéia sofredora, e então vaiam em silêncio e com educação, porém não menos indignados e se dão conta de que não têm vontade de perdoar àqueles que lhes deram um mal teatro infantil.
Teatro infantil: esse gênero dramático tão difícil, para o qual há que saber fazer teatro e mais que isto, conhecer a criança. Teatro infantil: uma arma fantástica de formação estética e ideológica. Teatro infantil: uma expressão artística que, quando é bem feita, o adulto também gosta.
Tradução:Carlos Augusto Nazareth
Fonte: revista Humor, Buenos Aires, Número 58, Maio, 1981, páginas 73,74.


# postado por Carlos Augusto Nazareth @ 8:23 PM


Comentários:


esse site é interessante, mas há ícones que nao auxiliam e sao incompreensiveis
parabéns pelo trabalho!!!:)
# postado por Anonymous Anônimo : 2:50 PM  

Não gostei!!! isso não mostra como se monta um teatrinho de mentira


QUE BOSTA!
# postado por Blogger Camila : 3:56 PM  

Uma BOSTAAAAAAAAAA
essa merda de site nao ensina BOSTA NENHUMA!!!!!!!!!!Meu site ensina mais de teatro, olha que eh um site de moda, do que essa BOSTA DE BLOG!!!
# postado por Anonymous Anônimo : 3:08 PM  

Texto genial! Ironia pura, morri de rir!
# postado por Blogger Valérie Mesquita : 10:46 AM  


Postar um comentário



<< Home
Conteúdo produzido por Carlos Augusto Nazareth - Design por Putz Design