Um espaço para reflexão sobre o teatro infanto-juvenil
Conteúdo Atualizado Semanalmente
Sou Atriz desde 1975 e em 1996, tornei-me também “contadora de histórias” profissional, no espetáculo: “Boca a Boca a Antiga Arte de Contar Histórias”, utilizando os recursos do Teatro, mas sem perder a essência do “contador”.
Foi um marco profissional, porque informalmente eu já contava Histórias em muitos lugares, para doentes, em casa ou em hospitais e para amigos, que reunia numa varanda, ao entardecer, ou à noite, sempre em torno de uma boa comida.
Contar Histórias mudou a minha vida!
Costumo dizer que elas salvaram a minha vida várias vezes. Na primeira vez, me tiraram de um buraco emocional, em outra, me salvaram literalmente, quando, escorregando de uma pedra, caí num mar bravio e, entre muita água engolida eu pedi: “Deus, eu não posso morrer agora, eu sou uma Contadora de Histórias!”, e a resposta, vinda de dentro de mim, foi muito clara: “Bóia e respira, presta atenção na respiração”. Foi o que eu fiz e aqui estou para contar mais essa história.
O fato é que, Contar Histórias para mim, é muito maior do que ser simplesmente Atriz. Não que isso não seja o bastante, principalmente quando se leva o ofício a sério, como eu sempre fiz. Mas contar histórias para mim, tem a ver com a cura da alma, tem a ver com “mexer” com o mais profundamente humano dentro de nós. E nesse ponto, o Ator, por maior que seja ele, é sempre menor do que uma boa História Tradicional, porque ele é sempre parte e a História é o Todo.
Enquanto o Ator busca na sua “bagagem emocional”, subsídios para representar um personagem, o “contador” tem que ser todos os personagens, e tem que ser também o rio, o mar, o fogo, o céu, o vento, os animais e todos os objetos importantes da História.
O Ator “se mostra” desenhando os sentimentos e emoções daquela pessoa que agora é. O Contador “se esconde” atrás da História. Ele não é importante, Ela é que é importante!
Então é um “descanso” e uma linda forma de trabalhar o Ego, educá-lo e domá-lo, no melhor dos sentidos.
Não que o contador de histórias não tenha Ego, longe de mim afirmar isso, mas esse distanciamento, permite ao contador “respirar” e se ver mais, e, se ele for esperto e tiver um pouco de consciência de si mesmo, pode perceber a sua pequenez, porque não somos nada diante da grandeza das Histórias e da sabedoria que há nelas e, se não tivermos humildade, um pouco que seja, não é possível contar histórias: Elas não permitem que o conhecimento profundo seja “liberado”.
Se você trabalha com um texto cheio de “energia”, que viajou dezenas, centenas, até milhares de anos, atravessou Continentes, Mares, Montanhas e falou muitas línguas, uma “grande força” se acumulou aí e o conhecimento que ele carrega, vale a pena ser contado e preservado.
Então, quando eu conto um Conto Tradicional, sei que estou mexendo com o inconsciente das pessoas e com o meu também. Sei que estou tocando em lugares que as pessoas normalmente não acessam, arquétipos profundos da alma, que estão lá, necessitando e desejando ser tocados e é maravilhoso quando todos parecemos entrar numa espécie de “transe”, um espaço tempo diferente desse nosso cotidiano, (e as Histórias tem esse Poder!), onde todos nos irmanamos pela simples condição de Humanos!
Contar Histórias nos humaniza, nos torna iguais, naquilo que temos de melhor, valoriza o nosso melhor e nos une enquanto Humanidade.
As Histórias Tradicionais resgatam essa beleza e força que estamos quase esquecidos: somos humanos e iguais! Não importa a cor ou condição social.
Por isso faz tão bem contar Histórias e por isso não há nada para mim melhor do que isso!
Aí, fazer um personagem pode ser divertido, num contexto legal pode ser importante, mas nada se compara ao poder de cura de uma palavra que toca o coração e a alma, porque vem cheia de energia e de intenções ancestrais!
Eu vi e vejo isso acontecer, nos olhos de crianças, jovens e adultos e não há palavras para explicar tal alegria e possibilidade.
Adoro pensar que os primeiros Humanos, se reuniam ao pé do fogo, para passar conhecimento e o mais velho, ou o mais experiente, passava o seu conhecimento para os mais jovens. Naquele tempo, eles já sabiam que, de uma forma agradável é mais fácil aprender. Daí para frente, ao mais expressivo, ou com melhor memória, foi dada a responsabilidade de retransmitir esse conhecimento.
E foi assim que essas Histórias, contadas de boca em boca, chegaram até nós, e, por mais que o nosso mundo se globalize, (aliás, até por causa disso mesmo!), nunca irá morrer, por mais que tenha ficado adormecida, (cada dia há mais “contadores de histórias!), essa Antiga Arte de Contar Histórias. Para isso aconteça, é preciso que o Universo pare primeiro!
Tenho consciência da importância, responsabilidade e necessidade desse trabalho, contando Histórias nos Teatros, nas Escolas, em Hospitais, para os grupos de amigos e em todos os lugares onde tenho ido levar, todos esses anos, (às vezes “socorrendo” alguém com algum Conto), o conhecimento profundo dessas Histórias, de que é essa a função da verdadeira Arte e é essa a verdadeira função do Contador de Histórias: curar através das Histórias!
Não preciso dizer mais.
Sou Feliz e agradeço a Deus ter me aberto esse Caminho.
Desejo a todos muita Luz e lindas Histórias!