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segunda-feira, junho 04, 2007


 

A ESTRUTURA DRAMÁTICA



por carlos augusto nazareth



“A fábula deve ser constituída dramaticamente, isto é, deve compreender uma ação única, que forme um todo coerente e que se complete em si mesmo e que tenha princípio, meio e fim, de modo que seja um perfeito organismo vivo, que possa produzir o prazer o que lhe é peculiar.”
Aristóteles

Aristóteles, em seu tratado divide a ação dramática em dois tipos: simples e complexa.
A primeira é aquela que apresenta um desenvolvimento contínuo, linear; a segunda é ditada por uma série de peripécias – entende-se por peripécia toda mudança de ação no sentido contrário do que está sendo indicado. Algumas dessas peripécias muitas vezes resultam numa “revelação” – o personagem toma consciência de um fato ou informação que mudará irremediavelmente sua história. (1)
. A matéria narrativa resulta, pois, de uma voz que narra uma estória, a partir de um ângulo de visão ou foco narrativo e vai encadeando as seqüências de uma efabulação, cuja ação é vivida por personagens e está situada em determinado espaço, dura determinado tempo e se comunica através de determinada linguagem ou discurso, pretendendo ser lida ou ouvida por determinado leitor/espectador.
Estudando esta narrativa, Aristóteles apresenta em sua Poética a Lei das Três Unidades, que dominou todo o período do classicismo francês: unidades de tempo, lugar e ação. No entanto as unidades de tempo e lugar, com o passar do tempo, foram postas de lado, restando apenas a UNIDADE DA AÇÃO DRAMÁTICA.

Unidade – o todo do texto dramatúrgico deve formar um só corpo orgânico, com princípio, meio e fim, onde o final esteja atrelado ao meio e o meio ao início, a partir de uma ação dramática.

Ação dramática – é que provém da execução de uma vontade, com intenção, buscando cumprir essa intenção.

Teatro, pois, é ação, ação dramática; ação dramática é conflito – em geral com vontades conscientes e caminhando determinadamente em busca de seus objetivos.
Enquanto só se falar em teatro dramático, estes são os elementos norteadores da narrativa teatral: Introdução-desenvolvimento-clímax-solução. O conflito é o cerne de todo texto teatral. Assim a primeira exigência que temos que fazer de um texto teatral é que ele tenha conflitos, que estes conflitos possam ser identificados e que se determine qual o conflito central, primordial, o que vai nos dar a linha mestra, a coluna do texto.
Num texto dramático, pode haver conflitos variados de toda espécie, mas subordinados a um conflito central. Cada cena também trás um pequeno conflito que nasce, se instala, cresce, aumenta e se resolve. As forças oposição, as vontades contraditórias, as energias opostas não permanecerão sempre iguais, o conflito crescerá, se intensificará, aumentará, até que atinja um novo momento em seus desenrolar.
O grande conflito de Romeu e Julieta, por exemplo, é o antagonismo entre as famílias. Esse antagonismo se exacerba, se intensifica, até o desfecho.
Portanto, tudo está ligado a tudo e tudo se move num conjunto como o das grandes constelações. Tudo depende de tudo e nada tem sentido tomado isoladamente. Por conseguinte, se aplicarmos esta afirmativa ao drama, tudo numa peça de teatro deve estar relacionado. A peça deve ser um conjunto onde todas as coisas dependem umas das outras.

Um galo sozinho não tece uma manhã,
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito e o lance a
outro;
E de outros galos que com outros cantos
de galos se cruzem e que com
os fios de sol de seus gritos de galo,
teça a manhã, desde uma teia tênue que
se vá tecendo, entre todos os galos
João Cabral de Melo Neto, 1975
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(1) Esta revelação pode ser apenas final e de preferência inesperada – que é um dos elementos mais saborosos da ficção. Segundo Margareth Nicolescu, diretora do teatro oficial da Romênia, no Curso para diretores de teatro da América Latina realizado no Brasil, só há teatro quando se surpreende o espectador.


# postado por Carlos Augusto Nazareth @ 6:53 PM


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: )
# postado por Blogger High Power Rocketry : 7:04 PM  


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